A comunidade empreendedora faz parte da cidadania financeira, com tudo, entendida como pleno exercício dos direitos e pelo cumprimento dos deveres dos cidadãos sobre suas finanças, entretanto, isto ainda é incipiente no Brasil e no mundo.
Pode-se dizer que os direitos do cidadão referem-se à inserção da população aos mercados e à educação financeira. Já os deveres estão relacionados a honrar compromissos financeiros, não cometer fraudes, adquirir produtos, serviços legalizados e cumprir as obrigações fiscais relacionadas às transações financeiras.
Sabemos que nem sempre isso acontece no Brasil. Já no cenário internacional, há uma crescente importância da educação financeira para o pleno exercício dos direitos, devido a uma série de fatores.
Alguns deles são a grande faixa de opções de produtos e serviços financeiros de empréstimo e investimento, as novas tecnologias para acesso e comercialização, o aumento da expectativa de vida da população e as recentes reformas nos sistemas previdenciários que gradualmente transferem dos governos para os cidadãos a responsabilidade sobre sua aposentadoria (OECD, 2005, tradução nossa).
Educação Financeira no Brasil
No Brasil, além dos fatores supracitados, a necessidade da educação financeira é agravada primeiramente pela desigualdade social, pelo alto spread bancário (diferença da taxa de empréstimo e de captação), pelo fato de grande parte da população possuir pouco ou desconhecer os acessos ao sistema financeiro, apesar de que todos os municípios tenham algum acesso ao sistema, seja por meio de bancos, cooperativas ou correspondentes, e pela cultura gerada por décadas de inflação alta. É fato que 3 em cada 4 famílias brasileiras sentem alguma dificuldade para chegar ao final do mês com seus rendimentos (IBGE, 2010).
A importância cada vez maior da educação financeira também se justifica pela necessidade do cumprimento dos deveres de cada cidadão para com a sociedade, visto que pessoas educadas financeiramente planejam melhor suas compras e cumprem seus compromissos financeiros. No caso internacional, a inadimplência dos compradores americanos de hipoteca contribuiu para o estouro da bolha imobiliária de 2008, desencadeando uma crise financeira internacional. No caso brasileiro, o inadimplemento corresponde a um terço do spread bancário (BACEN, 2008), gerando um maior custo do crédito para a sociedade.
Conceito de educação financeira
A educação financeira é o processo pelo qual consumidores e investidores melhoram sua compreensão sobre conceitos e produtos financeiros e, por meio de informação, instrução e orientação objetiva, desenvolvem habilidades e adquirem confiança para se tornarem mais conscientes das oportunidades e dos riscos financeiros, para fazerem escolhas bem informadas e saberem onde procurar ajuda ao adotarem outras ações efetivas que melhorem o seu bem-estar e a sua proteção. (OECD, 2009, p.2, tradução nossa).
A definição evidencia que a educação financeira objetiva formar cidadãos conscientes, capazes e livres para tomarem decisões para suas vidas, reflexo de uma vida melhor estruturada. Pelo cenário descrito na justificativa, a responsabilidade pelo bem-estar individual tem sido gradativamente transferida do Estado para cada cidadão.
No conceito, percebe-se também que a finalidade da educação financeira considera que os cidadãos estão essencialmente interessados em melhorar o seu bem-estar. Esse interesse é uma premissa fundamental para a eficiência do processo educativo, pois de acordo com a andragogia (KNOWLES, 1984), ciência que estuda a aprendizagem de adultos, as pessoas aprendem melhor quando motivadas por seus próprios interesses.
Segundo Eldar Shafir, professor da Princeton University, um fato trivial, mas profundo, é que as decisões não são baseadas em estados objetivos do mundo, mas sobre as nossas representações mentais desses estados (informação verbal)
Informação fornecida em sua palestra proferida na Conferência Internacional de Educação Financeira, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2009.
Nessa linha, os fatores comportamentais como a inércia ou o comportamento passivo, que reduzem a efetividade da educação sobre a gestão das finanças pessoais, fazem com que seja necessário complementar os programas de educação financeira com outros mecanismos (PADOAN apud OECD, 2008, p.12, tradução nossa). Shafir enfatiza que campanhas educacionais alteram apenas a intenção. Sendo necessário, então, o acesso facilitado e o desenvolvimento de produtos e serviços financeiros que tragam impacto na ação.
Nessa mesma direção, Paul Clitheroe (OECD, 2008, tradução nossa), presidente da Financial Literacy Foundation Advisory Board da Austrália, descreve que as pessoas nem sempre possuem bons hábitos financeiros, inclusive quando dizem que possuem as habilidades para administrar bem o dinheiro. Desse modo, não é suficiente fornecer informações e ferramentas financeiras aos consumidores, eles devem ser motivados a superar as barreiras comportamentais para se empenharem e aprenderem como fazer uma melhor gestão financeira.
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*Escrito por: por Charles Duek , CSO Quitei.co e Webfoco*